O cenário digital brasileiro apresenta desafios complexos para as govtechs, especialmente quando se trata de segurança cibernética.
A combinação de dados sensíveis, exposição pública e um ambiente regulatório rigoroso exige uma abordagem meticulosa e contínua.
Para atuar com eficácia, essas empresas devem adotar práticas que vão além do básico, integrando segurança em todos os aspectos de suas operações.
Assim, um dos primeiros passos é estabelecer uma cultura de segurança desde o início. Isso significa incorporar a mentalidade de “security by design” em cada etapa do desenvolvimento de produtos e serviços.
Pensar como um potencial atacante durante a fase de ideação ajuda a identificar vulnerabilidades antes que elas se tornem problemas reais. Além disso, a presença de um responsável dedicado à segurança da informação garante que as decisões técnicas e estratégicas sejam tomadas com o devido rigor.
A proteção de dados sensíveis é outro ponto que não pode ser negligenciado. Classificar e minimizar a coleta de informações pessoais, utilizando técnicas como pseudonimização, reduz os riscos em caso de violação. Realizar avaliações periódicas de impacto à proteção de dados demonstra conformidade com a LGPD e reforça a responsabilidade perante os usuários e reguladores.
A arquitetura Zero Trust tem se mostrado uma aliada poderosa nesse contexto. Segmentar redes, isolar microsserviços e exigir autenticação multifator para acessos privilegiados são medidas que dificultam a ação de invasores. A criptografia avançada, tanto em trânsito quanto em repouso, e o uso de módulos de segurança de hardware para chaves críticas são complementos indispensáveis.
No desenvolvimento de software, a integração de testes de segurança estáticos e dinâmicos no pipeline CI/CD assegura que vulnerabilidades sejam detectadas precocemente. Pentests regulares e programas de recompensa por bugs incentivam a comunidade a colaborar na identificação de falhas, criando um ecossistema mais resiliente.
Monitorar ambientes 24 horas por dia é fundamental para detectar e responder a incidentes rapidamente. A estruturação de um centro de operações de segurança, alinhado às exigências do ReGIC, permite notificações automáticas e ações imediatas. Manter planos de resposta testados para ameaças como ransomware e ataques DDoS garante que a organização esteja preparada para reagir de forma eficiente.
A gestão de terceiros também merece atenção especial. Exigir certificações como ISO 27001 ou SOC 2 de provedores e incluir cláusulas contratuais que garantam o direito de auditoria e notificação rápida em caso de violação são práticas que minimizam riscos associados à cadeia de suprimentos.
Por fim, a educação contínua dos colaboradores é um pilar muitas vezes subestimado. Treinamentos regulares sobre phishing e engenharia social, aliados a simulações de crises, ajudam a manter a equipe alerta e capacitada para reconhecer ameaças. A segurança não é um projeto com data para acabar, mas um processo dinâmico que exige adaptação constante.
Atuar no setor público brasileiro oferece oportunidades significativas e impõe responsabilidades elevadas. Adotar uma postura proativa em segurança, além de exigência legal, é uma forma de preservar a confiança dos cidadãos e garantir a sustentabilidade dos serviços digitais. Empresas que internalizam essa realidade não apenas cumprem normas, como contribuem para a transformação digital do Estado de maneira segura e eficiente.
Por Franklin Sampaio, CISO da Alfa Group Tech.